TARIKI

TARIKI (jap.) – Outro Poder (o poder do Buddha AMITABHA para alcançar a iluminação); oposto de JIRIKI. O Outro Poder é a crença central do budismo Terra Pura. O Outro Poder deriva da autêntica e total aceitação da realidade que está dentro e em volta de nós. Não é uma filosofia de passividade e irresponsabilidade, mas de atividade espiritual radical, de revolução pessoal e existencial. Sua essência é a força espontânea e maravilhosa que nos dá a vontade de agir, de "fazer o que o homem pode fazer e então esperar pela vontade do céu". É importante saber que o tariki é um poder que flui do entendimento fundamental de que, nas vidas que levamos, já somos iluminados.  O poder salvífico de Amida que se origina de seu Voto Primordial.

JIRIKI (jap.) Jiriki ( 自力 , a própria força) . Poder próprio (para alcançar a iluminação); o oposto de TARIKI. É o termo budista japonês para poder próprio, a habilidade de alcançar a liberação ou iluminação (em outras palavras, alcançar o nirvana ) por meio dos próprios esforços. Jiriki e tariki (他 力 significa "outro poder", "ajuda externa") são dois termos nas escolas budistas japonesas que classificam como alguém se torna espiritualmente iluminado. Jiriki é comumente praticado no Zen Budismo . No Budismo Terra Pura , tariki frequentemente se refere ao poder do Buda Amitābha . Esses dois termos descrevem as correntes de prática que os seguidores de todas as religiões desenvolvem. Na maioria das religiões, você pode encontrar expressões populares de fé que dependem da adoração de poderes externos, como um ídolo de algum tipo que deve conceder favor depois de receber ofertas de fé de um crente. Alguns crentes do Budismo Terra Pura aceitam que, por meio da fé e da confiança no Buda Amitabha, alguém será levado à iluminação, pois alguns cristãos ocidentais acreditam que pedir a Jesus para purificar os pecados levará à realização de tal desejo. Estes são exemplos de tariki, confiança em um poder externo para a salvação. Jiriki está experimentando a verdade por si mesmo e não apenas aceitando o testemunho de outra pessoa. Um exemplo de jiriki no budismo é a prática da meditação. Na meditação, a pessoa observa o corpo (na maioria das vezes na forma de seguir a respiração e a mente para experimentar diretamente os princípios da impermanência e do surgimento dependente ou "vazio") de todos os fenômenos. Esses princípios são discutidos formalmente nas escrituras budistas, mas jiriki implica experimentá-los por si mesmo.

Jiriki x Tariki (Próprio Poder x Outro Poder)

T’an-luan

O taoísta chinês T’an-luan (jap. Donran, 476-542) foi convertido ao buddhismo em 530 pelo monge indiano Bodhiruchi. T’an-luan, autor do comentário  Wang-sheng-lun Chu, desenvolveu a escola da Terra Pura como uma tradição distinta. Segundo ele, o  próprio poder (jap.  jiriki) não é suficiente para alcançar a iluminação, sendo necessário o  outro poder (jap.  tariki) — isto é, o poder do Buddha Amitabha, cuja graça é semelhante à luz que emana do sol. Amitabha proporcionaria incondicionalmente o despertar sobre os seres presos na ignorância. Isto constitui o “caminho fácil” da Terra Pura, em oposição ao “caminho difícil” das outras escolas.

Com relação ao “outro poder”, para qualquer um que acreditar no poder do voto compassivo do Buddha Amitabha de resgatar os seres sencientes e então desenvolver a bodhichitta, cultivar o samadhi [da recitação ou] lembrança do Buddha, cansar-se do seu corpo temporal e impuro nos três reinos, praticar a caridade, manter os preceitos e realizar outros atos meritórios, dedicando todos os méritos e virtudes ao renascimento na Terra [Pura] Ocidental — suas aspirações e a resposta do Buddha estarão de acordo. Contando assim sobre o poder do Buddha [Amitabha], ele imediatamente atingirá o renascimento. […]

Os ocidentais estão mais familiarizados com o Budismo Zen do que com o Budismo Terra Pura que Shinran ensinava. Zen e Terra Pura são, provavelmente, as duas principais correntes do Budismo Japonês, diferentes entre si de diversas maneiras.
O Zen sempre foi uma tradição relativamente aristocrática, atraindo primeiro a nobreza e, depois, os líderes da classe guerreira (samurais). Ele enfatiza o empenho para se atingir a iluminação, quer pela meditação, quer pela profunda introspecção. Os seguidores do Zen devem deixar o mundo e se tornar monges, vivendo juntos em comunidades monasticas e seguindo as suas regras.
O Budismo Terra Pura, em contraste, ensina uma prática simples, acessível a qualquer um: a recitação do Nome do Buda (Namo Amida Butsu). Se, por um lado, o Zen enfatiza o esforço espiritual, o Budismo Terra Pura enfatiza a fé. O Zen ensina que cada pessoa é um Buda e deve alcançar sua iluminação. O Budismo Terra Pura ensina que o Buda Amida, que já atingiu a iluminação, existe para salvar qualquer um que invoque seu Nome com fé sincera. Como resultado, o Budismo Terra Pura atrai seguidores entre os homens comuns.
Devido a importância do Buda Amida no Budismo Terra Pura, muita gente parece achar que se trata de uma religião que adora um Buda como um deus e que o Buda é uma espécie de representação visual dele - uma imagem, uma pintura, algo modelado na figura de um ser humano. Mas se olharmos para a verdadeira essência dos ensinamentos de Shinran, veremos que a imagem do Buda é meramente um meio de assistir a fé.
À parte os poucos escolhidos que se envolvem numa prática religiosa especial, ou encontraram a fé após sofrer algum tipo de despertar espiritual, é difícil para a maioria das pessoas apreender a realidade de seres invisíveis como deuses ou Budas. É difícil para nós assimilá-los no nível emocional.
E então, estátuas e pinturas dos Budas tornaram-se objetos de veneração. Contaram-se todos os tipos de histórias budistas. Mas nada disso expressa necessariamente a essência da religião. A estátua ou pintura do Buda, pousada com dignidade no templo, é uma nau para levar pessoas sofredoras à distante margem da paz e tranquilidade, uma lanterna para levar Luz a um lugar escuro. Tais ícones são encarados como seres benéficos, estendendo a mão para nós, confusos e perdidos, tomando-nos pelas mãos e levando-nos na direção certa.
É por isso que unimos nossas mãos em prece, curvamos a cabeça e agradecemos diante dessas imagens. Mas esse não é o nosso objetivo. A verdadeira realidade concebida por Shinran, o lugar para onde todos serão finalmente conduzidos, era a Terra Pura, acima de todas as imagens.
Livro: Tariki - Aceitando o Desespero e Descobrindo a Paz.