Curiosidades sobre monges e leigos
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30/08/2020
REV. JEAN TETSUJI
No Shin nós nos baseamos no Voto Original do Buda Amida, o qual promete salvar todos os seres viventes através do despertar do Coração Confiante (shinjin) para Ir-nascer em sua Terra Pura da Suprema Alegria e de lá iniciar nosso caminho de Bodhisattva rumo ao Supremo Nirvana.
Posto isso, nós não recebemos preceitos como em outras tradições por nos apoiarmos na ação salvífica do Voto, mas proferimos os juramentos prostrando-se três vezes, uma para cada joia do Budismo.
Juramento
Konjin jin mirai sai. Kie Bu, Kie Ho, Kie So
De agora até um futuro imensurável vou dedicar minha vida ao Buda, ao Dharma e
ao Sangha.
A cerimônia ocorre com a entrada dos postulantes paramentados de branco (jiban,
hakuê) roupa que simbolizauma mortalha, pois iremos morrer à vida mundana e
adentrar à Senda do Dharma. Na nave central nos sentamos em seizá alinhados
diante da imagem de Shinran para os primeiros ritos em ambiente todo escuro,
restando apenas a luz de uma grande vela. Breves ritos são feitos. Em seguida,
todos saem da nave e recebem do lado de fora dos seus padrinhos o paramento
preto (kokuê / jikitotsu) e o manto (sumigesá), vestem-nos e retornam para a
nave para realizar seus juramentos. Num dado momento todas as luzes da nave são
acesas e as portas frontais são abertas, permitindo a entrada da luz exterior,
fazendo uma alusão à Luz de Amida. Após esta cerimônia todos vão prestar
homenagem diante do mausoléu do Mestre Shinran no Shinshu Hombyo, em Higashiyama,
região leste de Kyoto. O encerramento se dá com a entrega do certificado
monástico (sosseki) e uma confraternização.
As ordenações ocorrem todo dia 7 de cada mês, remetendo ao dia que Shinran foi
ordenado. Os homens raspam a cabeça apenas na ordenação, mas é opcional
mantê-los durante sua vida clerical. As mulheres prendem os cabelos com um
adorno para ordenação, mas depois podem usar solto se preferirem. O significado
de raspar a cabeça é o mesmo das demais escolas, relembrando o ato de renúncia
de Shakyamuni, mas não raspá-los nos faz lembrar que estamos inseridos na
sociedade e que, queiramos ou não, estamos imersos no mundo das paixões sendo
raro extirpá-las, nos restando apenas confiar no Voto Original e recitar o
Nembutsu.
Votos dos leigos
Os leigos tomam refúgio em duas datas: no Hanamatsuri em abril e no
Hoonko (Rito de Ação de Graças em Memória ao Mestre Shinran) em novembro.
Dependendo da época, a cerimonia é realizada
pelo nosso Mestre das Missões, vindo do Japão anualmente, ou pelo Sacerdote
Primaz, responsável pela Ordem Shin Otani na América do Sul.
A cerimônia é realizada em um rito litúrgico seguido de juramentos à tríplice
Joia proferidos por um dos leigos.
A seguir, o Mestre das Missões ou o Sacerdote
Primaz faz a tonsura simbólica (kamisori) em três movimentos na cabeça do leigo,
entrega o nome de Dharma (homyo), um rosário (nenju) e o livro de ritualística (gongyoshu).
Para tornar-se leigo, o postulante deve ter conhecimento do Budismo, da escola
Jodoshin, conhecer suas práticas e ensinamentos, bem como atuar nas atividades
no sentido de vínculo e trabalho da comunidade budista.
Diferenças estéticas (vestimentas, templos)
Exemplo de altar da Ordem Otani – Higashi Honganji
Altares são ricamente ornamentados segundo o
sutra de Amida remetendo o indivíduo à materialização da Terra Pura por meio de
painéis coloridos de flores de lótus, seres musicais alados, pássaros exóticos,
chuvas de pétalas de flores, um conjunto de utensílios (butsugu) como
incensários, gongos, vasos de flores, castiçal de velas, e ao centro a imagem do
Buda Amida em sua varanda do palácio em pregação aos seres.
A liturgia é a prática central como expressão de gratidão e louvor ao Buda Amida
pela recitação dos Sutras e o cântico do Shoshingê (Poema da Verdadeira Fé),
composto pelo Mestre Shinran. Durante os ritos, os monges sentados no altar
simbolizam tomar o assento do Bodhisattva diante de Amida cabendo “emprestar” a
voz ao Buda de onde sua varanda profere o Dharma.
As cores dos paramentos monásticos representam as flores da Terra Pura baseado
no Sutra de Amida, e ao mesmo tempo a simbologia dos graus de acordo com o seu
tempo de estudo e conhecimento.
Paramento preto é comum a todos, desde o Grão-Mestre até o monge iniciante,
simbolizando as vestes do Mestre Shinran, fundador da Ordem.
Templo Higashi Honganji Brasil Betsuin – sede da missão sul-americana em São
Paulo
Os templos das escolas Terra Pura possuem o
ícone sagrado do Buda Amida entronizado no altar, muitos deles na lateral tem a
imagem do Mestre Shinran e eventualmente do Mestre Rennyo (reformador da escola
Jodoshin), do príncipe Shotoku, dos Sete Mestres (shichi koso) da Terra Pura.
Uma característica dos templos Shin é que os leigos ocupam o interior da nave
com os monges participando das cerimônias.
Outros aspectos (treinamento, crescimento na ordem)
Na Ordem Shin Otani (Higashi Honganji) há essencialmente duas formas de
ordenação: pelo seminário (senshugakkuin) realizado em Kyoto por um ano e meio e
a formação por um mestre de Dharma no Brasil. A primeira modalidade permite o
postulante ser um mestre do Dharma e se tornar um monge missionário (kaikyoshi),
coordenando um templo e atuando integralmente na Ordem, como funcionário; já na
segunda torna-se monge adjunto com limitações de atuações, mas realiza ritos
memoriais (hoji) e participa de grandes cerimônias como Ohigan e Obon.
Os graus de acordo com o tempo, a experiência e cursos de aperfeiçoamento,
iniciando como Hirazá, e depois galgando os graus de Kyoshi, Nyu-i, Man-i e
Hôshi.
Artigo pessoal em resposta a um trabalho de estudo de um monge da Sotozen
Publicado por Rev. Jean Tetsuji
Ministro do Dharma pela Ordem Shin Otani do templo Higashi Honganji de São
Paulo.
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