Todo o
Universo dentro de uma semente de papoula (Vídeo)
Ao longo de toda a sua vida, Buda Shakyamuni
proferiu palestras para explicar o caminho para a felicidade plena e
duradoura, possível nesta vida para todas as pessoas. A filosofia ensinada
por Shakyamuni foi registrada pelos seus mais graduados discípulos, dando
origem aos mais de sete mil volumes de sutras, livros que relatam o conteúdo
das palestras proferidas pelo Buda.
Dentro de um desses sutras, há uma frase que diz: Se colocarmos todo o
Universo dentro de uma semente de papoila, não ficará largo, nem apertado.
Caberá perfeitamente. Uma curiosa e até mesmo estranha afirmação, mas com
uma sabedoria muito profunda, que explica muitos factos do nosso quotidiano.
Contudo, o que quis Buda dizer com essa afirmação enigmática?
Consideremos uma pequena planta, um mato
que pode surgir em qualquer floresta do planeta. Por que é que essa planta
nasceu naquela floresta, naquele exato lugar? Decerto porque, de alguma
maneira, a semente que originou a planta caiu ou foi plantada nesse lugar.
Essa semente, por sua vez, foi produzida por outra planta, que também surgiu
de outra semente, e assim por diante. Para uma única planta brotar, foram
necessárias muitas e muitas sementes, incontáveis gerações de plantas que
produziram as sementes «ancestrais».
O mesmo pode ser dito acerca do nosso
nascimento. Sem os nossos pais, avós, bisavós e todos os nossos ancestrais,
não teríamos nascido. Se um deles não tivesse existido, não estaríamos,
neste momento, vivos. Para que uma pessoa esteja viva neste momento, para
que uma única planta exista, todo o Universo teve de estar em harmonia e
colaborar direta ou indiretamente para que esse único evento acontecesse.
Por isso, podemos afirmar que «Se
colocarmos todo o Universo dentro de uma semente de papoila, não ficará
largo, nem apertado. Caberá perfeitamente». Decorridos mais de 2600 anos
desde que foi proferida, esta verdade não se alterou, pois trata-se de uma
verdade universal. No Budismo, esta verdade é chamada Princípio da
Causalidade, causa e consequência ou causa e efeito, e ensina-nos que para
todos os acontecimentos da nossa vida houve uma causa anterior, e que essa
causa refere-se às ações que viemos praticando até hoje, ao longo de todo o
nosso passado.
O Princípio da Causalidade é a base de toda
a filosofia budista, sendo, por isso, o ensinamento que está presente em
todos os sutras budistas. A partir de uma compreensão mais profunda do
Princípio da Causalidade poderemos perceber melhor por que é que
determinados factos acontecem na nossa vida e de que maneira o nosso destino
é construído.
O Princípio da Causalidade explica a
relação entre causa e consequência da seguinte forma: As boas causas geram
boas consequências. As más causas geram más consequências. As minhas causas
geram as minhas consequências. Se considerarmos o Budismo como uma árvore, o
Princípio da Causalidade é o tronco e a raiz da árvore, ou seja, ele é o
ensinamento básico do Budismo. Sem raiz a árvore acabará por secar, e se se
cortar o tronco ela perderá o sustento. Portanto, se não entendermos o
Princípio da Causalidade, não será possível compreender a filosofia budista
e as relações de causa e consequência que ela explica. Este é o princípio da
causa e consequência ensinado na filosofia budista há mais de 2600 anos.
Sem uma causa jamais existirá a
consequência, ou seja, todo e qualquer acontecimento infalivelmente possui a
causa que o gerou. Não há nada que ocorra sem uma causa. Se existir uma
causa, certamente surgirá uma consequência. Esta é a verdade do Universo
descoberta pelo Buda Shakyamuni.
O Princípio da Causalidade não foi criado,
nem inventado pelo Buda. Já existia antes de ser descoberto e sempre
existirá, exatamente por ser uma verdade universal, como a lei da gravitação
universal descoberta por Isaac Newton. A semente não plantada jamais
germinará. Da mesma forma, a semente plantada certamente um dia germinará e
crescerá, independentemente do tempo que demorará a acontecer.
Há mais de dois mil e seiscentos anos, na Índia, Buda Shakyamuni (Siddhartha
Gautama) já ensinava que para toda e qualquer consequência, com certeza existiu
uma causa, que não há nada que aconteça sem causa, por acaso.
Isto é explicado em profundidade pelo Princípio
da Causalidade (causa e consequência), base de toda a filosofia budista e,
também, de uma vida feliz.
O Princípio da Causalidade é o ensinamento que está presente em todos os sutras
budistas.
A partir de uma compreensão mais profunda do
Princípio da Causalidade poderemos entender melhor porque determinados factos
acontecem na nossa vida e de que maneira o nosso destino é construído.
O Princípio da Causalidade explica a relação entre causa e consequência da
seguinte forma:
Boas causas geram boas consequências.
Más causas geram más consequências.
Minhas causas geram as minhas consequências.
Se considerarmos o Budismo como uma árvore, o
Princípio da Causalidade é o tronco e a raiz da árvore, ou seja, ele é o
ensinamento básico do Budismo.
Sem a raiz a árvore acabará secando, e se cortar o tronco perderá o sustento.
Portanto, se não entendermos o Princípio da
Causalidade, não será possível compreender a filosofia budista e as relações de
causa e consequência que ela explica sobre a nossa vida e o nosso eu.
Kamma: A Lei da
Causalidade Moral
Estamos diante um
mundo completamente desequilibrado. Percebemos as desigualdades, os
múltiplos destinos dos homens e os inúmeros tipos de seres que existem
no universo. Vemos que uns nascem em abundância, dotados de boas
qualidades mentais, morais e físicas, e outros em extrema pobreza e
miséria. Aqui está um homem virtuoso e santo, mas, ao contrário de suas
expectativas, o infortúnio está sempre pronto para recebê-lo. O mundo
perverso contraria as suas ambições e desejos. Ele é pobre e miserável,
apesar de seus tratos honestos e piedosos. Há um outro vicioso e tolo,
mas considerado um amado da sorte. Ele é recompensado com todas as
formas de favores, apesar de suas deficiências e mau estilo de vida.
Poderá questionar-se,
porque razão um deveria ser inferior e outro superior? Porque razão se
deveria ser arrancado das mãos de uma mãe amorosa quando apenas a viu
nuns poucos Verões, e outro morre na flor da vida, ou na idade madura de
80 ou 100 anos? Porque razão um deveria estar doente e outro é forte e
saudável? Porque deveria um ser bonito e elegante, e outro feio e
horroroso, repugnante para todos? Porque deveria um ser criado no colo
do luxo, e outro na pobreza absoluta, mergulhado na miséria? Porque
razão deveria um nascer milionário e outro pobre? Porque deveria um
nascer com características santas, e outro com tendências criminosas?
Porque deveriam alguns ser linguistas, artistas, matemáticos ou músicos
desde o berço? Porque deveriam alguns ser congenitamente cegos, surdos e
deformados? Porque razão deveriam alguns ser abençoados e outros
amaldiçoados desde o nascimento?
Estes são alguns
problemas que inquietam as mentes de todos os homens que pensam. Como é
que vamos explicar todos estes desequilíbrios do mundo, essa
desigualdade da humanidade?
É devido à obra do
acaso cego ou acidental?
Nada neste mundo
acontece por acaso cego ou acidente. Dizer que algo acontece por acaso
não é mais verdadeiro que dizer que este livro chegou aqui por si mesmo.
Estritamente falando, ao homem não acontece nada que não mereça por
algum motivo ou outro.
Poderia ser o decreto
de um Criador irresponsável?
Poderia esta variedade de
seres humano dever-se a fatores hereditários ou ao meio ambiente?
Deve-se admitir que todos
esses fenômenos físico-químicos, revelados por cientistas, são uma parte
instrumental, mas não podem ser responsáveis sozinhos pelas distinções subtis e
as vastas diferenças entre os indivíduos.
Porque os gêmeos idênticos,
fisicamente semelhantes, que herdaram os mesmos genes e tiveram a mesma
educação, muitas vezes são totalmente diferentes em temperamento, moralidade e
intelectualidade?
A hereditariedade não pode por
si só explicar essas enormes diferenças.
Estritamente falando, a
hereditariedade é uma explicação mais plausível para as semelhanças que para a
maioria das diferenças. O infinitesimalmente menor germe físico-químico, que é
cerca da 30 milionésima parte de uma polegada de diâmetro, herdada dos pais,
explica apenas uma parte do homem, a sua base física. Quanto às diferenças
mentais, intelectuais e morais mais subtis, precisamos de mais luz.
A teoria da hereditariedade
não pode fornecer uma explicação satisfatória para o nascimento de um criminoso
depois de uma longa lista de antepassados ilustres, o nascimento de um santo ou
um homem nobre em uma família de má reputação, o surgimento de
crianças-prodígio, gênios e grandes mestres religiosos.
Segundo o Budismo esta
variação deve-se não só à hereditariedade, ao meio ambiente, “natureza e
educação”, mas também ao nosso próprio Kamma, ou em outras palavras, ao
resultado herdado de nossas próprias ações passadas e nossos atos presentes. Nós
mesmos somos responsáveis por nossas ações, felicidade e miséria. Nós
construímos nossos próprios infernos. Criamos nossos próprios céus. Somos os
arquitetos do próprio destino. Em definitivo, nós mesmos somos nosso próprio
Kamma.
Kamma
Numa ocasião, um certo jovem
chamado Subha, aproximou-se de Buddha e perguntou-lhe qual era o motivo de entre
os seres humanos existirem estados elevados e inferiores.
“Pois”,
continuou, “encontramos entre os seres humanos aqueles de vida breve e de longa
vida, os saudáveis e os doentes, os bem parecidos e os feios, os poderosos e os
que não têm poder algum, os pobres e os ricos, os de elevado nascimento e os de
baixo nascimento, os ignorantes e os inteligentes”.
Buddha replicou sucintamente:
“Cada
criatura vivente tem o Kamma como propriedade, como herança, como causa, como
origem, como refúgio.
O Kamma
é o que diferencia os seres viventes de estados baixos e elevados.”
Em seguida, explicou a razão
para tais diferenças segundo Lei da Causalidade Moral.
Assim, de um ponto de vista
Budista, nossas presentes diferenças mentais, intelectuais, morais e
temperamentos devem-se principalmente, às nossas próprias ações e tendências,
tanto passadas como presentes.
O Kamma, literalmente,
significa ação; mas, num sentido último, significa volição meritória e
demeritória (Kusala Akusala Cetana).
Kamma constitui tanto o bem
como o mal. Bem gera o bem. Mal produz o mal. Semelhante atrai semelhante. Esta
é a Lei de Kamma.
Como alguns ocidentais
preferem dizer, Kamma é “ação-influência”.
Colhemos o que semeamos.
O que semeamos nós
colhemos em algum lugar ou em algum momento.
Em certo sentido, somos o
resultado do que fomos; seremos o resultado do que somos.
Em outro sentido, não somos
totalmente o resultado do que fomos;
Não somos absolutamente o
resultado do que somos.
Por exemplo, um criminoso hoje
pode ser um santo amanhã.
O Budismo atribui esta
variação ao Kamma, mas não afirma que tudo se deve ao Kamma.
Se tudo se devesse ao Kamma,
um homem [mau] seria sempre mau, pois o seu Kamma é de homem mau.
Outro homem [bom] não teria
que visitar um médico para ser curado de uma doença, pois se o seu Kamma fosse
assim, esse homem se curaria.
Segundo o Budismo, existem
cinco ordens ou processos (Niyāmas) que operam nas esferas do físico e
do mental:
Kamma Niyāma:
Ordem de ato e consequência – por exemplo, atos desejáveis ou
indesejáveis produzem os correspondentes bons ou maus resultados.
Utu Niyāma:
Ordem física (inorgânico) – por exemplo, fenómenos sazonais dos ventos e
das chuvas.
Bīja Niyāma:
Ordem dos germes ou sementes (ordem orgânico-física) – por exemplo, o
arroz produzido por sementes de arroz, o sabor doce da cana-de-açúcar ou
mel, etc.
A teoria científica das células e genes e a similaridade entre gémeos são
exemplos desta ordem.
Citta Niyāma:
Ordem da mente ou lei psíquica – por exemplo, os processos de
consciência (Citta Vīthi), poder da mente, etc.
Dhamma Niyāma:
Ordem da norma – por exemplo, os fenómenos naturais que ocorrem quando
chega um Bodhisatta em seu último nascimento, gravidade, etc.
Todos os fenómenos mentais ou
físicos poderão explicar-se por estas cinco ordens ou processos que abarcam tudo
e que são leis em si mesmas.
O Kamma é, portanto, só uma
das cinco ordens que prevalecem no universo. Trata-se de uma lei em si mesma,
mas não se deve inferir que deve existir um legislador. As leis atuais da
natureza, como a lei da gravidade, não necessitam de um legislador. Operam em
seu próprio campo sem a intervenção de um agente governante independente.
Ninguém, por exemplo, decretou
que o fogo deve queimar. Ninguém ordenou que a água deve procurar o seu próprio
nível. Nenhum cientista ordenou que a água deveria ser composta de H2O
e que o frio deve ser uma das suas propriedades. Estas são as suas
características intrínsecas. O Kamma não é nem destino nem predestinação imposta
a nós por algum poder misterioso desconhecido ao qual nos devemos impotentemente
submeter. São os próprios atos reagindo em nós mesmos, e portanto tem-se a
possibilidade de desviar o curso do Kamma em certa medida. Até que ponto se pode
desviar depende da própria pessoa.
Além disso, deve-se dizer que
uma fraseologia como recompensa e punição, não deve ser autorizada a entrar em
discussão a respeito do problema do Kamma, uma vez que o Budismo não reconhece
nenhum Ser Todo-Poderoso que governa seus súbditos e lhes recompensa e castiga
em consequência. Budistas, pelo contrario, acreditam que a dor e a felicidade
que uma pessoa experimenta são o resultado natural das próprias boas e más
ações. Importa referir que o Kamma tem o principio de continuidade e o principio
retributivo.
Inerente ao Kamma é a
potencialidade de produzir o seu devido efeito. A causa produz o efeito; o
efeito explica a causa. A semente produz o fruto; o fruto explica a semente e
ambos estão inter-relacionados. Da mesma forma, Kamma e seus efeitos estão
inter-relacionados; “O efeito já floresce na causa.”
Um Budista que está plenamente
convencido da doutrina do Kamma não reza a outro para ser salvo, mas certamente
confia em si mesmo para a sua purificação, porque esta doutrina ensina a
responsabilidade individual.
É esta doutrina do Kamma que
proporciona consolação, esperança, autoconfiança e valor moral. É esta crença no
kamma “que valida seu esforço, acende seu entusiasmo”, faz-lhe sempre amigável,
tolerante e amável. É também esta firme crença no kamma que o leva a abster-se
do mal, fazer o bem e ser bom sem estar ameaçado por qualquer punição ou tentado
por qualquer recompensa.
É esta doutrina do Kamma que
pode explicar o problema do sofrimento, o mistério do chamado destino ou
predestinação de outras religiões e, sobretudo, todas as desigualdades da
humanidade.
O Kamma e renascimento são
aceites como axiomáticos.