Saicho e a Escola Tendai
Saichō (最澄?) (767–822) foi o monge budista japonês que fundou uma das duas
escolas budistas do período Heian, a escola Tendai. Saicho viajou para a China
durante a dinastia Tang, para receber treinamento nos ensinamentos da escola
Tiantai. Depois de receber autorização como mestre nesta linhagem, Saicho voltou
para o Japão para propagar seus ensinamentos. Fundou muitos templos e
estabeleceu o centro de sua escola no Monte Hiei, próximo de Kyoto. Lá fundou o
principal templo da escola Tendai, o Enryaku-ji. Depois de morto, recebeu o
título póstumo de Dengyō Daishi (伝教大師).
Nascimento: 15 de setembro de 767 d.C., Sakamoto, Ōtsu, Shiga, Japão
Falecimento: 26 de junho de 822 d.C., Mount Hiei, Quioto, Japão
Pais: Mitsu no Obito Momoe, Myōtoku
Sepultamento Enryaku-ji
Cidadania Japão
Etnia japonesa
Ocupação bico, calígrafo, filósofo
Religião Tendai
Saicho (767 a 822 E.C.) é personagem central dentro do desenvolvimento do Budismo japonês, tendo confrontado o poder político das escolas do período Nara e aberto o caminho que propiciou o surgimento de importantes escolas do período Kamakura.
Neste sentido, Saicho pode ser considerado um dos fundadores do Budismo do período Heian.
O Budismo das escolas de Nara havia se consolidado como uma religião urbana, contudo Saicho escolheu afastar-se dos problemas causados pelas confusões e corrupções da vida na cidade e fez do Monte Hiei seu local de prática budista.
Ali, opondo-se as escolas de Nara, que baseavam sua doutrina nos comentários escritos por Nagarjuna e Vasubandhu (entre outros patriarcas indianos), Saicho passou a fazer uso dos próprios sutras, com ênfase no Sutra de Lótus, desta forma dando início ao desenvolvimento de um Budismo japonês próprio (TAKESHI, 2007).
Saicho nasceu em uma vila próxima ao Monte Hiei em 767 E.C., em uma família de imigrantes chineses.
Recebeu sua ordenação inicial no ano de 785 E.C.e, dois anos depois, lhe foi concedida a ordenação plena como monge budista.
Isolou-se no Monte Hiei com o objetivo de dedicar-se as práticas ascéticas e a contemplação, longe da cidade que havia produzido sacerdotes corruptos e interesseiros devido a sua proximidade com o poder político.
Em 797, o imperador Kanmu, que reinou entre os anos de 781 a 806 E.C., concedeu a Saicho o título de Naigubuso (sacerdote da corte), o que traz notoriedade e, também, alguns desafetos.
No ano de 804 E.C.,o jovem monge partiupara uma viagem para a China, durante a dinastia T’ang e ali permaneceu no Monte T’ient’ai, tendo sido iniciado naquela escola por Hsing-man, discípulo de Chan-jan (711 a 782 E.C.) patriarca da escola T’ien-t’ai, retornandoao Japão no ano seguinte(TAKESHI, 2007).
A notoriedade alcançada antes de sua ida a China perdeu sustentação com o falecimento do imperador em 806 E.C., o que permitiu que as escolas de Nara pudessema tacar Saicho em seu anseio por um Budismo que ele considerava mais elevado em sua doutrina e moralmente mais ortodoxo.
As aspirações doutrinárias de Saicho não encontraram respaldo na corte, pois esta buscava o pragmatismo de uma religião que fosse capaz de trazer “prosperidade e segurança para suas famílias e a derrota para seus inimigos” (TAKESHI, 2007, p. 173).
Ocorreu nesta época o rompimento de relações entre Kukai e Saicho em uma disputa pelo poder religioso, uma vez que a escola Tendai não havia recebido um Kaidan, ou seja, uma autorização para ensinar a doutrina e promover a ordenação de seus discípulos, o que fez com que, mesmo “após anos de estudo e disciplina ascética sob orientação direta de Saicho, muitos de seus discípulos eram obrigados a deixa-lo e a submeter-se a sacerdotes de Nara, para poder adquirir suas qualificações formais” (TAKESHI, 2007, p. 174).
Saicho escreveu três tratados compilando os regulamentos que deveriam ser seguidos pela escola Tendai e seus discípulos, através dos quais ele estabelecia que as escolas de Nara seguiam a tradição Hinayana, portanto não teriam como interferir na ordenação dos seus discípulos, seguidores da tradição Mahayana.
Após longos e exaustivos embates, a autorização para o Kaidan da escola Tendai foi concedida logo após a morte de Saicho, fazendo com que houvesse uma equiparação com as escolas de Nara.
A doutrina da escola Tendai manteve um alinhamento com os comentários do príncipe Shotoku,que distinguiam o Sutra de Lotus e de Srimaladevi dos outros ensinamentos do Buda Histórico e que fundamentavam a teoria do veículo único –Ekayana.
De certa forma, a “tradição Mahayana via os ensinamentos desses discípulos [sravakas e pratyekabuddhas] como excessivamente negativos.
Esses discípulos haviam visto o mundo humano como sofrimento, e o desejo, como a raiz do sofrimento e tinham buscado extinguir esse desejo por meio de uma vida de reclusão dedicada aos preceitos, à meditação e ao cultivo da sabedoria”.
Os esforços de Saicho não apenas estabeleceram as bases de independência doutrinária da escola Tendai, mas também fizeram do monte Hiei um local de estudos para outros ensinamentos, como o tantrismo, o Vinaya e o Zen, de forma que “muitas das doutrinas que se desenvolveriam posteriormente teriam sua origem em monte Hiei e no âmbito da escola Tendai” (TAKESHI, 2007, p. 177).
Assim formaram-se as bases para o surgimento da escola Terra Pura, muitos anos mais tarde desenvolvida por Genshin, Honen e Shinran.