Genku, mais conhecido como Honen, dileto mestre de Shinran, tinha quarenta anos a mais do que ele, e é uma das mais importantes figuras do budismo japonês.
Era filho de um oficial da província que foi assassinado ao ser envolvido em um conflito entre facções de samurais. Influenciado pelo pai que, moribundo, transmitiu-lhe o ensinamento budista de que o ódio não poderia ser vencido pelo ódio, ordenou-se monge na idade de 9 anos. Foi para o monte Hiei, onde aprendeu com os monges famosos Guenku, Koen e Eiku e esteve em templos conhecidos de Nara e Kioto sempre em busca do caminho para a libertação espiritual. Inspirado pela leitura de Coleção de Passagens Essenciais sobre o Nascimento de Guenshin, encerra-se na Biblioteca Hoonzo, em Kurodani, para ler todos os sutras relacionados com a Terra Pura. Chegou a um comentário de Shan-Tao que diz:
“A contínua repetição do Nome do Buda com a singela Fé, sem se importar se está andando, sentado, de pé ou deitado, ou se a pratica num curto ou demorado tempo, é chamada Prática que Certamente Garante o Nosso Nascimento, porque está de acordo com o Voto do Buda”
Converte-se ao ensinamento da Terra Pura aos 43 anos. Aos 64 anos, compôs a Coleção de Passagens sobre o Nembutsu do Melhor Escolhido Voto Original e consolidou as bases da doutrina da Terra Pura em prol da confiança irrestrita no outro poder, em oposição às práticas centradas no próprio poder. No primeiro capítulo, proclama a independência da seita Jodo em relação a outras escolas da Terra Pura pela especificidade dos seus fundamentos doutrinários e o modo da sua transmissão. No segundo, explicita a ineficiência das outras práticas para o Nascimento na Terra Pura. No terceiro, qualifica o nembutsu como a única prática compatível com a finalidade do Voto Original de Amida e desenvolve nos capítulos sucessivos as bases teóricas para essa escolha. Conclui que o nembutsu, por ser fácil de ser praticado por homens e mulheres de todo tipo e ser superior em qualidade, foi a própria escolha do Amida.
Desceu a montanha e expôs a exclusiva prática do nembutsu em Yoshimizu, Kioto. Seu ensinamento se adaptava às condições sociais contemporâneas e a prática do nembutsu foi aceita amplamente pelo público em geral. Despertou ciúme e inveja dos tradicionalistas, por isso ele e o seu grupo foram severamente perseguidos pelo poder. Quatro discípulos foram executados e os outros exilados para vários rincões do Japão, entre eles Shinran, que foi deserdado para Echigo, situada na costa do Mar do Japão. Retornou a Kioto em 1211 e no ano seguinte morreu sem se reencontrar com Shinran. Tinha 80 anos.
Dois dias antes de morrer, ditou a famosa Confissão de Fé em Uma Página, a pedido de um seguidor. Com Honen, o imenso trabalho do Voto da Compaixão renasceu no Japão.
A vida de Honen
Honen nasceu em Mimasaka em 1133 E.C. Aos nove anos viu seu pai ser mortalmente ferido em uma disputa e ouviu suas últimas palavras deste, incitando-o a não se permitir ser tomado pelo ódio de querer vingança contra o inimigo e a deixar a vida leiga para se tornar monge (NORIYOSHI, 2007).
Assim, aos treze anos, Honen chegou ao monte Hiei para estudar os ensinamentos e a doutrina da escola Tendai tendo por professor Jihobo Genko. Tornou-se discípulo de Koen e foi formalmente ordenado monge em 1148 E.C. À época de Honen, o monte Hiei havia se distanciado da proposta original de Saicho e “se transformado num local de exibição de fama e riqueza para monges de origem nobre e tinha perdido totalmente sua antiga distinção como local de prática religiosa” (NORIYOSHI, 2007, p. 212).
Honen decidiu se afastar desse local, mas não sem antes ler totalmente os sessenta volumes do cânone da escola T’ien-t’ai, o que lhe tomou três anos. Mudou-se para a afastada área de Kurodani, ainda em monte Hiei e ali passou a conviver com um grupo de nenbutsu hijiri seguidores de Genshin(NORIYOSHI, 2007).
Durante uma visita de estudos a cidade de Nara, acredita-se que ele tenha tido contato com a doutrina da Terra Pura que ali havia sido professada por monges como Yokan (1033 a 111 E.C.), Chinkai (1091 a 1152 E.C.) e Jippan (m. 1144),compreendendo a disparidade na prática da escola Tendai e daquela proposta por Genshin e os monges de Nara que “inspirados por Shan-tao (613 a 681 E.C.), davam ênfase maior ao Outro-Poder e à garantia da salvação contida no Voto Originalde Amida” (NORIYOSHI, 2007, p. 213).
Honen começou a manifestar descontentamento com as práticas as quais estava submetido tendo escrito “eu, por mim, não posso observar sequer um único preceito, não posso aprofundar minha concentração e não posso alcançar a sabedoria, suprimindo minhas paixões” (NORIYOSHI, 2007, p. 213).
Aos 42 anos, Honen leu em Shan-tao a seguinte passagem: “Quer andando quer parado, quer sentado,quer deitado, apenas repita o nome de Amida com todo seu coração. Nunca interrompa essa prática, mesmo por um momento. Esse é o trabalho que infalivelmente resulta em salvação, pois está de acordo com o Voto Original do Buda” (NORIYOSHI, 2007, p. 214).
A partir deste momento, Honen compreendeu que as outras práticas que antes eram praticadas por ele deveriam ser abandonadas e passou a se dedicar exclusivamente à recitação do nome do Buda Amida, prática esta chamada de senju nenbutsu.
Após mudar-se para uma área afastada do centro de Quioto chamada Otani e ali estabeleceu sua base, passando a professar a doutrina da Terra Pura para as pessoas comuns, conquistando cada vez mais adeptos por todas as classes sociais da sociedade.
Com a sua notoriedade,algumas escolas tradicionais começaram a ficar incomodadas, o que gerou conflitos como o ocorrido em 1186 com o sacerdote primaz da escola Tendai, monge Kenshin (1131 a 1192 E.C.).
Aos 65 anos de idade,Honen completou seu Tratado sobre a Seleção do Nenbutsu do Voto Original (Senchakushu em japonês)(NORIYOSHI, 2007).
Os anos finais de Honen foram marcados por muitos problemas.
No ano de 1204 a escola Tendai solicitou que a corte imperial proibisse a prática exclusiva do nenbutsu, alegando que isto contrariava as práticas tradicionais adotadas pelas escolas legalmente estabelecidas.
As seguidas críticas à doutrina exclusiva e devido a problemas comportamentais causados por alguns de seus discípulos,f ez com que uma decisão extremada fosse tomada pela corte em 1207, quando a prática exclusiva do nenbutsu foi proibida.
Alguns discípulos foram condenados à morte e outros, juntamente com Honen, condenados ao exílio.
Honen foi levado para a ilha de Shikoku e, apesar de ter recebido o perdão da corte quatro anos depois, faleceu em 1212(NORIYOSHI, 2007).
A grande inovação de Honen no desenvolvimento do Budismo em geral e da doutrina da Terra Pura,em particular, foi a proposição de se praticar a recitação exclusiva do nenbutsu, abandonando todas as outras práticas budistas, uma vez que o Budismo “fora predominantemente sincrético tanto na China quanto no Japão, harmoniosamente combinando várias formas de treinamento.
A tradição Tendai, por exemplo, combinava a meditação, o nembutsu e uma ênfase nos preceitos” (NORIYOSHI, 2007, p. 215).
Honen desenvolveu uma forma de Budismo que conflitava com algumas das escolas formalmente estabelecidas durante o período Kamakura, com um radicalismo que determinava a escolha da prática da recitação do nome do Buda Amida em detrimento de qualquer outra prática.
Isto não o impediu de ter muitos seguidores e alguns de seus discípulos foram:
Shokobo Bencho (1161 a 1238 E.C.)
Zennebo Shoku (1177 a 1247 E.C.)
Kakumyobo Chosai (1184 a 1266 E.C.)
Ryukan (1148 a 1227 E.C.)
Jokakubo Kosai (1163 (?) a 1247 (?)) e
Shinran (1173 a 1262 E.C.), seu mais famoso discípulo (NORIYOSHI, 2007).